“Não permitimos flores nesse jardim”: reflexões sobre os processos de enfrentamento ao abuso e exploração infantil na cidade de Manaus

Considerando a importância da campanha Maio Laranja, criada em alusão ao Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes (18/05), a Editora UEA trouxe a obra Espaços Violados: uma leitura sobre a violência sexual contra crianças e adolescentes em Manaus, como forma de conscientizar a população sobre a necessidade de discutir e combater a violência sexual contra crianças e adolescentes.

No atual contexto histórico, a exclusão social e os casos de violência se amplificaram, tais aspectos que deveriam ser amenizados pelas políticas públicas, simplesmente são silenciados, suavizados, abafados ou redirecionados. Tendo como base essa sociedade que perpetua a violência, o doutor em Geografia Humana, Joaquim Hudson de Souza Ribeiro, discorre em seu livro, publicado em 2013, acerca da violência sexual contra crianças e adolescentes na cidade de Manaus e como os órgãos responsáveis, a sociedade, a família e as vítimas lidam com essas situações.

O autor parte da concepção de espaço, iniciando reflexões quanto ao espaço físico: Mundo/Brasil/Amazônia/Manaus e, através dos recortes, adentra as questões que envolvem o corpo e a mente dos indivíduos violentados. Em seu conteúdo, encontram-se 4 capítulos principais que, organizados em seus subtítulos, apresentam um estudo minucioso sobre tais ocorrências “promovendo novas reflexões acerca da violência e suas diversas formas de manifestação, neste espaço regional amazônico” (RIBEIRO, 2016, p. 50).

O primeiro capítulo, A formação socioespacial da Amazônia e a produção do espaço urbano de Manaus: violência, poder e subjetividade, apresenta questões iniciais sobre o conceito de violência e seus pormenores (violências ignoradas pela sociedade), trazendo o papel social em meio a tais acontecimentos e como a marginalização de certas classes e suas associações à violência acabam por catalisar espaços destrutivos que culminam tendo como principais vítimas mulheres e crianças. O autor explica que Manaus foi fundada na prostituição e na dominação de corpos alheios e como isso é naturalizado até os dias de hoje. Para exemplificar, ele expõe a subalternização da mulher operária, como a sexualização de seu trabalho e sujeita à passividade com situações de inferiorização e assédio. Ou seja, a produção de ambientes que naturalizam essas violências impossibilita as vítimas, que se tornam invisibilizadas, de se defenderem.

No segundo capítulo, Da violência sexual contra crianças e adolescentes ao longo dos séculos vista sob o panorama mundial, nacional e regional, o escritor traz para o campo de discussão o processo de desenvolvimento do pensamento do que é ser criança e como esses conceitos foram se transformando e adaptando às novas formas de ser enquanto sociedade e, ao mesmo tempo, como eram mantidas características arcaicas que desumanizam o indivíduo infantil, o submetendo a situações de violências justificáveis através de pretextos familiares, apoiados em um discurso falocêntrico patriarcal (tanto na cultura quanto na religião), e como as políticas públicas parecem não dar a devida atenção à causa. O autor, ainda, apresenta dados que apontam os casos de violência sexual de crianças e adolescentes na Região Norte do Brasil e como elas são entregues como turismo sexual, evidenciando uma rede de tráfico humano, complexa e estruturada, que precisa ser combatida.

Iniciando o terceiro capítulo, Uma leitura psicossocial da violência sexual contra crianças e adolescentes em Manaus, a partir das denúncias, é discutido sobre o processo de denúncias e os números de casos apontados, pois poderiam ser superiores, se não fosse, em parte, pela desinformação sobre o que é a violência sexual e, ainda, pelos casos não denunciados, nos quais as crianças e os adolescentes são coagidos por seus abusadores a não falarem sobre a violência ocorrida. O autor explicita neste capítulo as discussões de classe e gênero, pois, as violências (sexuais ou não) são associadas as classes mais baixas e majoritariamente tendo como vítimas mulheres; no entanto, através de um recorte social, o autor denota que a violência sexual ocorre independente de classe social e de gênero. O que se percebe é que existe a normalização do abuso de meninos (quando ocorre com uma mulher ou há silenciamento para não ferir a virilidade quando ocorre com um homem) e as condições precárias de vida dessas classes, que tornam as crianças mais vulneráveis a sofrerem ou serem submetidas a violências que prejudicarão seu pleno desenvolvimento.

O quarto e último capítulo, Epistemologia das redes no território, seus nexos e a rede de serviços às vítimas de violência sexual, discorre sobre as redes de comunicações e seu desenvolvimento em uma sociedade capitalista, no qual, primariamente, tinha como objetivo o acesso às informações por todos, porém, tal realidade não ocorre. O autor dá o enfoque na rede de enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes, que acaba por ser mal estruturada e não atende plenamente às vítimas, desatentando as suas diversas causas. Através da conscientização aos leitores acerca da preparação de lugares bem estruturados e acolhedores, busca a reflexão de a criação de uma rede de denúncias na qual não exija que a criança reviva a cada novo centro de atendimento a experiência do abuso, que ultrapasse a modéstia e realmente dê suporte para as vítimas e seus familiares.

Em síntese, o livro apresenta uma análise dos aspectos geográficos e psicossociais da cidade de Manaus em detrimento dos casos de violência contra a criança e adolescente, e aponta que, mesmo com diversos avanços na área, todo o sistema de enfrentamento ainda precisa de apoio tanto social, rompendo a síndrome do segredo, quanto político para, desta forma, poder desenvolver uma sociedade mais igualitária que ofereça um ambiente seguro para a plena formação da criança e do adolescente.

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