Há espaço para riso e humor na literatura brasileira?

No dia primeiro de maio (01/05) é comemorado o Dia da Literatura Brasileira e, pensando nisso, indicamos para leitura a obra A Antitradição Literária Brasileira, de Gleidys Maia, publicada em 2013 pela Editora UEA.

Com o estudo voltado para o modernismo brasileiro e a tradição do riso, a autora traz as obras de Oswald de Andrade e Murilo Mendes como objetos de análise, para que, através deles, construa debates sobre conceitos estéticos como ironia, escárnio e paródia, submersos na literatura brasileira, abordando a inserção do riso e do humor como manifestação de críticas sociais no movimento modernista.

No primeiro capítulo, Brincar com o fogo da inteligência: o cenário literário e o excesso de razão, é apresentada a ideia dos conceitos visados dentro do pensamento modernista, uma vez que a autora estabelece uma linha de contraste para apresentar dentro do seu estudo os conceitos de tradição do humor e do riso.

O segundo capítulo, dividido em três partes, acompanha na primeira delas, Melhor rir do que chorar: Vertentes literárias do humor e do riso, as discussões sobre as diversas funções e categorias de riso e humor presentes na poesia e na lírica; em Carnaval versus Quaresma ou A batalha do riso e do antirriso, a trajetória pela Idade Média nos mostra como o riso, antes humanista, caminhou, ao longo do tempo, para o escárnio e a ironia como forma de protesto. E, por último, em A Ironia e o humor: itinerários da modernidade, o humor gótico e o cômico grotesco são explorados ao longo da segunda geração do Romantismo.

O terceiro capítulo, também dividido em partes, apresenta em Eu quero ser moderno: o intelectual Oswald de Andrade e a verve irônica, a introdução do Modernismo e das Vanguardas no Brasil; em A modernidade bate à porta, não existe porta: o jeito é rir, os movimentos modernistas são analisados historicamente, especificando os modernistas brasileiros que exaltam suas culturas e utilizam expressões de riso e metáfora; a seguir, Poesia Pau-Brasil: riso e revolução aborda as características da obra de Oswald de Andrade e contextualiza o movimento nacionalista Pau-Brasil; História do Brasil: discurso de negação/ afirmação do passado nacional analisa minuciosamente a primeira parte, História do Brasil, da obra Pau-Brasil, relacionando-a com a tradição do riso; já Ironia e a fórmula do discurso ingênuo: ver o país analisa o uso da ironia do poeta e continua a investigar a História do Brasil e o movimento nacionalista de Oswald de Andrade.

O capítulo quatro, Pra que chorar, se o sol já vai raiar: Murilo Mendes e a História do Brasil, apresenta a história de Murilo Mendes na literatura e como a satírica e o humorístico se envolviam em suas obras; em Fragmentos de um discurso corrosivo: sob a pena da galhofa, os poemas de Murilo Mendes são analisados em busca de identificar o tipo de humor inserido em suas obras; Um lugar ao sol ou o discurso da festa profana continua a análise, mas agora com foco nas obras de História do Brasil, com a autora estudando a satírica trazida pelo poeta e, em O realismo satírico da poesia muriliana e a dessacralização do discurso histórico, é finalizada a investigação na poesia de Murilo Mendes, com observações sobre os traços de piada e humor nos poemas de História do Brasil, levando em consideração o homem brasileiro e a sua história.

Por último, o quinto capítulo, A antitradição literária brasileira: uma poética do riso, finaliza considerando os traços humorísticos e carnavalescos na arte brasileira, concluindo como o riso é manifestação, é crítica, grotesco e também reflexão.

Todas essas formas de humor pairam no inconsciente coletivo do brasileiro que, e apesar de tudo, tem prazer em rir de tudo.

MAIA, 2013, p. 133

Considerando todos os tipos de manifestos que circulam na sociedade brasileira hoje, é indubitável que o humor esteja inserido como arte e crítica. Ainda, o movimento nacionalista e modernista do Brasil teve papel importante ao denunciar através da própria arte como o Brasil é ferido e, mesmo assim, belo. Às vezes buscando o riso alheio, em outras completamente hostil e ácido, é extraordinário como a tradição do riso consegue criar autenticidade entre diversos momentos dentro da literatura.

Em síntese, a obra é relevante e merece ser lida e discutida pois, entre outras coisas, reflete sobre o fato de o humor ser uma das vias para a expressão existencialista do brasileiro, e, sobre como os primeiros artistas do movimento modernista trouxeram para a identidade nacional outras formas de protesto e significação de valores dentro da nossa literatura tão pouco valorizada.

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Para ter mais informações de como acessá-lo, envie um e-mail para editora@uea.edu.br

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