Redescobrindo a aprendizagem: utilizando a dança como instrumento no processo educacional

A Editora UEA indica a obra A dança na escuta do corpo ribeirinho: o Proformar valorizando os profissionais da educação na Amazônia, de Lia Sampaio, que é ideal tanto para aqueles interessados em saber mais sobre dança, quanto para pesquisadores da área. Nesse sentido, o livro busca estabelecer vínculos e espaços entre a dança em suas diversas relações com o mundo, seja no campo científico, tecnológico e/ou social.

Assim, a obra quebra com o estereótipo de que a dança é uma mera expressão do corpo em momento de euforia e traz significados que vão além de tais paradigmas, atingindo, além do plano educacional, até mesmo patamares espirituais. Considerando que, apesar de ter uma tradição antiga que não apenas sobreviveu e se remodelou, também se adaptou às tecnologias criando novas formas de representação que não apagassem sua essência ou inferiorizassem sua relevância como expressão cultural. Através dela que é possível analisar habilidades do nosso cotidiano, investigar e organizar a pluralidade de modelos de gestos que dizem o corpo. Isso ajuda a encontrar um olhar crítico para encontrar um diálogo entre a escola e a comunidade, para  que seja possível introduzir a dança também como um instrumento socializador.

O primeiro capítulo, Homem-Ambiente-Tecnologia, faz uma contextualização sobre os principais autores responsáveis em promover a dança no Brasil, tais como Rolf Gelewiski, Dulce Aquino e Lais Morgan, além de falar um pouco sobre o programa Proformar, cujo foco são os povos e a sociedade, no qual visa promover melhores condições para todos, sendo o Proformar algo que “nasceu numa universidade nova, com espírito novo, preocupada em promover a melhoria das condições de vida dos povos e das sociedades” (Sampaio, 2015, p. 27). Nele, a autora estabelece diálogos que são importantes para novos estudos no campo das ciências, fazendo com que haja espaço para discussões didáticas que ajudam a romper com as ideias de exclusão.

O segundo capítulo, Círculos do Habitat: os habitantes do corpo no fluxo das águas, explora a dança sob a luz da escuta do corpo, tendo uma simbologia mandálica, ou seja, que busca através do corpo ser um só com a natureza, as energias do mundo e o cosmo; é, sobretudo, viver de forma livre e poética. A dança, nesse sentido, possui um valor inestimável tanto histórico quanto cultural; então, simbolicamente, ela está atrelada à arte, pois é através dela que os corpos expressam suas crenças e seus sentimentos. Carl Jung (1959) já dizia que há tanto poder no símbolo que ele pode influenciar diretamente os seres humanos, pensando nisso, a arte tem uma bagagem valiosa de ferramentas para o ser humano, sem medo de presentear a humanidade com tudo que ela possui, pois ela ajuda a estabelecer uma análise crítica e auxilia no processo de caracterização do próprio corpo, tendo valor científico, como veremos mais adiante, a dança é uma poderosa ferramenta estratégica para ensinar e aprender.

Sendo assim, a dança não é natural de uma determinada cultura, pelo contrário, ela é aprendida no convívio social. A autora discute que a dança pode ser capaz de conscientizar as pessoas, tornando-as conhecedoras de fatos que acontecem não só no local onde estão, mas em todo o mundo, funcionando como uma ferramenta que transforma e dota essas pessoas com habilidades de transformar umas às outras.

Após isso, o capítulo Uma visão transdisciplinar num diálogo circular aborda a dança em um sentido de conscientização, seja sobre o próprio corpo, seja sobre o impacto que ela tem nas pessoas ao redor. A dança trabalha não apenas com expressões corporais, mas com seu impacto, que se estende para trabalhar atividades motoras, psicológicas, etc. Mesmo que seu real significado seja banalizado e haja um certo preconceito: “- Ah, mas por que aprender dança?”, Lia Sampaio defende que é através dela que conseguimos promover a união, modificar comportamentos e desenvolver formas de viver/ver o mundo, tornando necessário que a grande meta da educação deva ser o desenvolvimento da compreensão humana.

Refletindo sobre a dança no ambiente amazônico ribeirinho, a dança é uma das principais formas que temos de divulgar, interpretar, conhecer e amar nossa Amazônia. Pois é possível assegurar os pertencimentos culturais, (re)imaginar e (re)criar lendas e histórias que são passadas através da tradição oral. Então, o nosso corpo funciona como um projetor cultural, que traz o passado/futuro e o imaginário sem perder a relação com o presente. Portanto, a dança, para a autora, é mais do que fazer alguns movimentos ao ritmo de alguma música. Para ela, representa uma expressão que vai além do corporal: é mente, alma, espírito, já que o corpo é a representação visível do que a mente pensa. Através dela que podemos reviver e manter o espírito amazônida, preservando culturas locais e antigas, que são heranças de nossos antepassados.

No terceiro capítulo, O lugar da dança em à luz da “escuta poética” fenomenológica, a autora discorre sobre se abrir para o que está acontecendo de verdade, afirmando que é necessário ficar desnudo para poder sentir novas sensações. A escuta poética assume esse papel para ensinar que o prazer é ser dono do próprio corpo, já que a dança é matriz do gesto humano.

O capítulo final, intitulado Dança, improvisação e tecnologia na educação, apresenta a extensa rede de profissionais envolvidos no Proformar, desde professores (titulares e assistentes), coordenadores pedagógicos, gestores de projetos, até tecnólogos, comunicadores, produtores e editores. Todos com o objetivo de promover o aprendizado contínuo de professores, valorizando sua informação e habilidades como produtores de conhecimento.

Em seguida, com o subtítulo A arte do corpo na informação digital, a autora discorre sobre a abordagem inovadora do programa, que permitiu a exploração criativa do corpo, da tecnologia e do ambiente, levando os participantes a descobrirem novas formas de expressão e aprendizado. Tal interação entre a dança e a tecnologia abriu caminho para uma reflexão crítica sobre a sociedade, a cultura e a evolução tecnológica.

E, por fim, em A dança improvisação articulada no Proformar: uma experiência, temos a questão da improvisação sendo apresentada como uma experiência sensorial e expressiva que se manifesta de forma fugaz e temporária. Sampaio destaca que a improvisação é uma reação ao momento presente, construída de maneira social e transdisciplinar. Ela enfatiza que a repetição da improvisação leva a impulsos e reações renovados, resultando em novas descobertas sensoriais e perceptivas.

Em poucas palavras, a autora busca explorar as imagens que deveriam interagir entre homem-ambiente;  o quanto a dança e a tecnologia ganham forças conjuntas para quebrar o paradigma entre ações inteligentes do signos de autoras colaborativas e o corpo coexistir com a mídia; apresenta também um formato novo e diferente de aprender a dançar através da escuta dos segredos de quem habitam as saliências das águas claras e escuras desse imenso Rio Amazonas.

Ao falar sobre o sentido da dança, é importante manter em destaque que cada sujeito é único, com suas particularidades e diferenças. Todos nós possuímos uma tríade cerebral, isto é, cérebro/mente/cultura, sendo apenas na cultura que o homem se realiza, pois mostram a dança como ingrediente do processo com uma roupagem investigativa, conquistando referenciais que vão dar suporte à educação formal, modelando a visão estética e sensibilidade ética no cotidiano escolar.

 Portanto, a obra de Lia Sampaio é excelente para que haja uma desconstrução individual e mental para, com isso, ter uma transformação social. Pois, a dança se une à ciência num processo puramente educativo, pois esse significado simbólico que ela possui, além de ser uma das formas que as pessoas podem expressar suas crenças, seus sentimentos, sua percepção de beleza, também auxilia no processo cognitivo e intelectual.

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